domingo, 19 de julho de 2009

Corações Atados, Corpos Separados

E pensar que te amei sem medida,
E que era tudo tão lindo..., encantamento,
Eu olhava a lua, minha cúmplice da saudade (que tinha),
Da pronúncia suave do teu nome, das estrelas com quem sonhava em noites escuras.

Lembro do último sorriso. Tu já estavas ficando diferente, frívola;
Luar do planalto que começava a fazer-se em indiferença de uma noite sem estrelas, névoa...;
O amor intenso naquela triste hora transpirava dúvida.... cabeça confusa;
Querias “um tempo”, muito embora o tivesses todo;
Não estavas mais feliz, mesmo que (dias antes) houvesses manifestado uma paixão voluptuosa (porém casta).

Insegura, apertaste meu braço, como se fosses um grilhão vacilante, uma algema frágil;
Beijaste-me com a boca seca, sem amor, sem paixão;
Disseste-me: - “Não penses besteira!”. Como se possível fosse!
Tua despedida já evidenciava o teu arrependimento, que nunca tiveste coragem de me falar.
Lágrimas regaram meu caminho, longo caminho, longos anos.

Mas eu amava, e amava muito, como o poeta que senta na beira da praia e tece versos ao ritmo das ondas;
Como um sonhador que escreve na areia sabendo que o mar vai fazer tudo desaparecer;
Eu amava com ternura, minha vida toda eu já projetava com tua presença ao meu lado;
Eu mesmo escrevi o meu destino, e quis muito que ele fosse como nos meus sonhos;
Muito embora (sempre) soubesse que ele se apagaria pelo mar da tristeza, pela ondas da decepção;
Restando apenas a brisa incessante da saudade a remoer em mim resquícios que de ti ainda restam.


Por isso, eu quis buscar-te, fazer-te mudar de idéia; nem sabes a que custo!
Tu, porém, inflexível, declinavas o sentimento que tinhas por mim,
Amor intenso, amor, paixão, “gostar”, “amigos”..... indiferença.
Antes que se tornasse ódio, eu fui embora, regar meu pranto, curar meu coração.

Aqueles a quem tu tinhas amizade alardeavam:

“-Ela está apaixonada por outra pessoa!”;
Queriam que eu te procurasse.

Queriam que eu visse com meus próprio olhos.
Mas eu não quis.
Não queria ter o desprazer de ver-te em outros braços.
Quis poupar-me desta afronta, desta humilhação.

A partir daí eu quis viver, meu coração (ingênuo) de poeta apaixonou-se novamente.
A tua lembrança virou só uma curiosidade.

Queria ver-te, nada mais que isso...
Na verdade, eu quis reencontrar o sabor da vida em outros braços;

Que fossem mais zelosos comigo.
Nunca quis exterminar tua lembrança!

Aliás, isso nem era [é] possível.
Mas tive de dar rumo à minha vida, pois tu, como parte do meu passado, precisavas passar...

Mas, como disse, e pensar que te amei sem medida, a ponto de me machucar;
E que tudo era tão lindo, a ponto de me ilaquear;
A lua, que era nossa cúmplice, após tanto tempo, quase nem me fascinava mais;

Tudo ficou deixado lá atrás, no silêncio sepulcral do esquecimento.
Tudo, quase tudo; até que, então, repentina, explode tua lembrança em mim;

E descubro que tudo o que era passado - na verdade - não passou;
Tudo o que era perdido - na verdade - não se perdeu.
Inquieto e atormentado, busco atônito uma explicação!!!
Porque agora, depois de tanto tempo, aflora eruptiva a tua lembrança???
Eis aí uma resposta que eu adoraria receber.
Quem dar-te-á coragem de me enfrentar?
De dizer que te arrependeste amargamente!

Que me procuraste em outros braços;
Que buscaste meu ósculo suave noutros lábios, na desesperada esperança de ouvir "Te amo!", como somente eu sabia dizer;
Que ficaste aprisionada pelas minhas palavras, pelos meus versos, pela minha jovial lembrança;

E que nunca conseguiste amar novamente, pois continuavas encarcerada,
Como doce prisioneira de um amor (pouco) vivido, de felicidade desperdiçada;
E de tudo que de mim permaceu em ti.

Na verdade, nada disso me consola e, apesar de tudo,
Gostaria (muito) de ver-te, abraçar-te e desejar-te toda a felicidade do mundo;
Felicidade que não me coube proporcionar-te.
Sê feliz eterna e ditosa princesa do meu coração.

Nunca te reservei ódio ou rancor (muito embora não consiga mais esconder a mágoa).
Somos cúmplices na saudade e na solidão, reféns da dura realidade;
Julgados e condenados, por causa das artimanhas do destino;
Nosso amor (biplatônico) é para ser vivido assim, de lembranças, de saudade, de contrição;

Corações atados, corpos separados, como se tudo fosse, o que nunca foi;
E, quem sabe um dia...

Marcos Da Boit Suzin.

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