sábado, 18 de julho de 2009

As Cartas Não Mentem (Porém, não conhecem a Verdade)

As Cartas Não Mentem
(Porém, não conhecem a Verdade)


Num dos meus pecados, estive diante das Cartas, e elas me falaram de você;
“Ela lhe trouxe algum desgosto!” “Ela tinha outro!” “Ela se arrependeu...”, coisas assim disseram;
Tomado de cólera, nunca mais quis ouvir o seu nome;
Tratei de esquecê-la, rejeitá-la, exorcizá-la da minha lembrança.
Amargurado, fui réu da própria consciência;
Condenado, pedi perdão a Deus e jurei nunca mais ouvi-las (as cartas), para não ouvir também seu nome.

Porém, aquilo que é gravado no coração não se apaga; se sufoca, se reprime;
Sentimentos represados não ficam assim por muito tempo; um dia estoura.
Aflora, então, meu antigo desejo em ebulição de emoções; ora contrito, ora pesaroso;
Torno a lembrar seu nome. Ah! o seu nome; (Saudade!?)
Que eu havia riscado com tanto ressentimento, hoje ressurge revolto, com sensação de perda.
As Cartas, ah! as Cartas!
Não posso consultá-las, mas também não posso ignorá-las;
Pois o que falaram há muito tempo não se apagou da minha mente, nem do meu coração.

“As Cartas não mentem!”. É o que dizem.
Mas, se as Cartas não conhecem a Verdade, como então podem sabê-la?
Ora, não consiste a mentira na negação da verdade?

“O que é a Verdade?”, disse Pilatos diante da própria Verdade.
A Verdade é misteriosa. “Escreve certo por linhas tortas”, diziam os antigos;
Os desígnios são compreendidos após morosa reflexão.
Então, como podem as Cartas me falarem a verdade se não conhecem a Verdade?
Não foi a própria Verdade que tirou você do meu caminho, diante da silenciosa ruína que se antevia?
Portanto, em nome da Verdade, renuncio a sua lembrança e ao encanto da sua presença;
Pois tudo que ficou de você em mim, a tristeza e a mágoa (cicatrizadas),
Era apenas uma amostra do infortúnio que me esperava;
Caso houvesse eu acreditado na verdade das Cartas;
E desobedecido a Verdade que é Deus.

Marcos Da Boit Suzin.

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