segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Tê-la de Volta...

Tê-la de volta é o que eu mais queria;
Inexplicável nostalgia que me invade a todo momento.
Sua lembrança, como o orvalho da manhã, vem e envolve todo o meu ser;
Sem ao menos perceber, o quanto é molesta e inoportuna.

Sonhei-a em todos os meus sonhos;
Fiz-me enfadonho, amargo e entristecido;
Desapontado e emudecido, tratei de esquecê-la;
A vida? Resolvi vivê-la. Rompi, enfim, a apatia.

Longos anos sem que houvesse notícias suas;
Pelas ruas, andava eu sem qualquer receio ou turbação;
Meu coração, convalescido, pulsava feliz ao sopro da liberdade;
Felicidade, quem diria, encontrei-a onde menos procurava.

O destino, porém, mostrou-se ávido em travessuras;
Acometido por diabruras, fui assaltado pela sua lembrança;
Ousada e cheia de esperança, assim mesmo saiu-me à procura;
Inexplicável desventura, armou-se contra mim peçonha e sedutora.

Conhecedora de minhas pechas inumeráveis;
Usou palavras hábeis, para ilaquear meu coração;
Resquícios de antiga paixão, que se fazem mar em fúria;
Fustiga e açoita a lamúria, de tudo que era, mas nunca será.

Por falta de coragem, busca-me enfeitiçar;
Para minha alma aprisionar, aos caprichos que a fizeram só;
E que reduziram ao pó, o imenso amor que nutria por sua pessoa;
Antiga paixão que ressoa, renitente após todos esses anos.

Tê-la de volta é o que eu mais queria;
Pois de melancolia, minha vida se satura;
E me desnatura o impulso ávido em amá-la outra vez;
Indisfarçável mesquinhez que não me deixa perdoar.

Tê-la de volta é o que mais queria;
E, quem sabe um dia, esquecer as mágoas do passado;
E, ao seu lado, viver como se nada houvesse sucedido;
Amor perdido que faz amor vivido.

Socorre-me, porém, o caráter, a sabedoria e a razão;
Insones guardas do coração, que me alertam a todo momento;
Antevisão do sofrimento, que junto a ti me aguardava;
Do infortúnio que me esperava, como o leão que ruge, pronto a devorar.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Pai

Eu parei aqui e comecei a pensar;
Como uma palavra tão pequena pode significar tanto?
São apenas três letras, como uma trindade;
Três que significam tudo, o todo.

Como pode uma palavra tão simples retratar algo tão grandioso?
Tudo o que um pai é ou representa;
Como pode uma palavra aparentemente pobre em grafemas;
Retratar algo de esplendor imensurável?
Só sei que pai é como o sol e como o céu;
Apenas três letras, pois nem todo o alfabeto poderia descrevê-lo;
Nem todos os grafemas do mundo poderiam dizê-lo;
Nem todas as línguas – mortas ou vivas – poderiam sabê-lo;
E ao mesmo tempo representá-lo;
Pelo simples fato de que pai é pai.

Pai!?
Só quem é sabe o peso e a angústia;
Os tormentos, os medos a inquietação.
Só quem é sabe o impiedoso resgate que o mundo cobra;
Para não devorar seus filhos;
Ou para não levá-los por caminhos obscuros;
Que levam à morte.Pai!?
Só quem é sabe como é penoso e, por vezes, doloroso;
Impor limites, educar, dar bons exemplos;
Ser sólido rochedo, enquanto tudo desaba;
Ser proteção inabalável, enquanto o medo avança;
Não guardar mágoas ao ser esquecido em asilos, albergues, casas de repouso;
E, mesmo assim, ser um eterno apaixonado pelos rebentos que gerou.

Pai!?Só Deus sabe o que é ser Pai!
Só o Pai sabe como é ser Pai, Pai de verdade.
Pois a natureza não transforma o homem em pai;
Ele apenas se torna.
Na verdade, o que transforma o homem em pai é a imitação do Pai;
É o carregar diário das cruzes e dos fardos;
É a renúncia às paixões do mundo e a todas as seduções.
Ser Pai é como ser um pequeno deus, um imitador do Altíssimo;
Que, além de proporcionar tudo, é preciso sacrificar-se dia a dia;
Praticar violência contra a própria natureza;
Tendo a plena certeza que nunca será reconhecido;
Não poderá nem mesmo esperar "obrigado!".
Muito menos, "te amo!";
Pois tudo que um pai proporciona, o faz em doação, doação com renúncia;
Pois a ninguém é dado – nem mesmo aos pais – amar sem sofrer.

Pai!?Três letras que dizem um pouco menos que tudo;
Um pouco mais que o todo;
Enfim, o suficiente para que o filho cresça e saiba;
Que o amor maior não pode ser mensurado pelas palavras;
Mas, representado por apenas três letras;
Pai diz tudo, sem omitir nada;
Assim como o sol e o céu;
Imensidão que se faz palavra miúda;
Para que os filhos saibam, desde pequeninos;
A chamarem: Pai! Em todos os momentos.

Marcos Da Boit Suzin,
09/08/2009

O que Eu Fiz para Mim?

Queria poder encontrar-te;
Dizer que minha vida é um vazio desde que partiste;
Confessar que fui rancoroso ao negar-te retorno.
Por mais que me tenha iludido todo este tempo;
O certo é que nunca - mas nunca mesmo - te esqueci.

Virei a página da vida apressadamente;
Enjambrei-a! Na desesperada esperança de encerrar um capítulo sofrido;
Varri minha sujeira emocional para debaixo do tapete;
Na ânsia incontida de superar a decepção que teu adeus representa.
Não pude te perdoar, na verdade não quis; não te perdôo, ainda;
Paguei teu desprezo com a minha indiferença;
Fiquei com o troco da desilusão, com o malogro da esperança.
Toda tristeza do mundo caiu sobre mim, como um imenso fardo.
Hoje busco teus olhos em outros olhares e teu amplexo noutros braços;
Reviro meu baú de memórias; nefasta nostalgia;
Na busca interminável da jovial lembrança de tuas feições.

Como disse, queria poder encontrar-te;
Resolver nosso passado cinzento, obscuro pela névoa da inconsiderada decisão.
Sei que o passado passou, e que o nada voltará a ser o que nunca foi.
Porém, tenho em mim secreta esperança de te reencontrar;
Muito embora saiba que teu olhar é uma seta peçonha;
Que fustiga o coração de quem te ama, ou te amou;
Em cruel forma de se demonstrar o (des) afeto;
Amor que de amor tem quase nada;
Pois açoitas a quem és aprazível
E desprezas o coração que alhures conquistaste;
Encerrando-o num calabouço de lembranças;
Cada vez mais um repertório de suplícios;
De quem anseia intensamente a libertação.

Cada dia que passa teus grilhões me fatigam mais e mais;
Por isso, eu te busco dia-a-dia; numa rotina lúgubre de gemidos.
Quero te olhar frente a frente, olhos nos olhos;
Dizer-te que me arrependo de ter te aprisionado com meu rancor;
De ter te encarcerado com minhas mágoas e meu ressentimento.
Pois eu mesmo me fiz prisioneiro da minha pequenez, da minha insignificância;
E te fiz motivo para minhas mazelas, uma expiação para os malogros das minhas paixões.
Eu mesmo me fiz vindita, voltando-te as costas e desviando o olhar.
Hoje quero me fazer perdão (o perdão que sempre te neguei);
Para libertar-te e fazer-me livre também.
Queria tanto poder encontrar-te e dizer-te apenas:
- Vive a vida, pois te concedo o meu (im) prescindível perdão!
Que é para ti um nada, mas para mim a resoluta ruptura de um amor subjacente;
Que secretamente me fez cativo todos esses anos;
Sem que eu mesmo compreendesse o que fiz para mim;
O que eu fiz para mim! O que eu fiz para mim?

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Cárcere do Coração

Silenciosa e discreta vem tua lembrança;
Como a noite que envolve tudo com a escuridão;
Por mais que eu lute, vence-me sempre a saudade;
O gosto doce que ainda tenho do teu último beijo;
Ósculo incomparável, marca indelével.

Assim como a névoa tácita enreda e embaça os horizontes;
Assim tua lembrança me invade, me perturba, me aprisiona.
Quem poderia libertar-me de tais recordações?
Se nem mesmo eu quero me ver livre dessa nostalgia;
Dessa cadeia que traz teu nome em todos os lugares, em todas as manhãs.

Entorpecido com o perfume inebriante de um florido jardim;
Meu coração se vê num claustro aprazível ao relembrar os grilhões de teu amplexo;
Uma ilusão medonha ou uma lembrança graciosa?
Pergunto-me eu a todo instante;
Sem saber qual resposta me resta, e qual quero ouvir.

Quem traz tua lembrança, assim, com a brisa do planalto?
Quem é o mensageiro de tão vistosa recordação?
Perguntas sem resposta;
Respostas que não respondem.
Dúvidas que permeiam, e magoam o coração.

Porque eu sinto em mim o apelo desesperado de me ensurdecer ante este teu retorno?
Regresso inusitado e inoportuno depois de tanto tempo.
Coração prudente mantém distância segura;
Pois o encanto que de ti ficou ainda me fascina, me seduz;
Cegueira funesta que dá calafrios.

Como posso me libertar da nostalgia que me invade?
Da saudade mórbida que me assalta a todo momento?
Negar-te já não posso mais; calar-te eu nem mesmo quero;
Diz, apenas, porque aprisionas meu coração?

Neste ditoso cárcere que atiça em mim o sabor pernicioso da paixão.

Marcos Da Boit Suzin.
070809