domingo, 3 de novembro de 2013

Mais de Mim, Menos de Ti...

Ceguei aqueles te amam,
para que não te conheçam,
E não saibam que tu és Meu.
Manterei esta cegueira enquanto Me aprouver,
Porque és Meu pequeno, Meu aprazível trono,
Meu sagrado pimpolho.

Despojei-te e pus teus amigos à distância.
Desterrei tuas paixões mundanas,
E nada deixei de humanamente perfeito em ti.
Fiz com te desprezassem como a um despojo inútil.

Nem àqueles que são Meus - e que me fazem as vezes - dei-te a conhecer.
Alguns poucos permiti conhecer o diminutivo pelo qual te saúdo,
Mas nada além disso.
Porque tu és Meu, e não terás outros amores além de Mim.

Contenta-te, pois, em ser o mais completo nada.
Pois do nada Eu fiz tudo.
E tudo o que quero de ti é um grande nada,
Para assim aprazer-Me fazer-te tudo,
Conforme desde o sempre imaginei e o quis.

Eu te teci e esculpi para mim, unicamente.
Fizeste-te surdo ao Meu chamado, mas não desisti.
E não desisto do que sonhei para ti desde a eternidade,
Porque és meu,
Escrevi teu nome na palma da Minha mão
- Nos sulcos chagados do Meu Coração -
Para que saibas que não vives para ti, mas para Mim.

Jamais encontrarás repouso noutros braços, porque te amo até o ciúme.
Não é de amores mundanos que viverás,
Mas de uma amor eterno, na casa que te preparei.
Onde realizarei todos os teus sonhos,
E dar-te-ei uma alegria, que o mundo jamais conhecerá.

Por ora, saturo-te de lágrimas e indiferenças,
Cubro-te de incompreensões e ignomínias.
Oculto-te sob um manto de escárnio,
Para que Meu semblante cada dia esteja em ti.
E assim tu tenhas -gradativamente - mais de Mim e menos de ti.

(Marcos Suzin, 03-11-2013, 13h30min)

domingo, 22 de setembro de 2013

Entre Ninguém e Alguém...

Você pode dizer que eu não sou ninguém.
Mas ninguém deve (ria) dizer que alguém é ninguém.
Pois ninguém sabe onde poderá sentir falta de alguém.
Justo alguém que alguém um dia pensou fosse ninguém.

Ninguém é perfeito.
Alguém talvez o seja.
Mas alguém que considera alguém ninguém,
Talvez seja um ninguém também.

Ninguém deveria desprezar alguém,
Só pelo fato de achá-lo ninguém.
Pois um dia verá ninguém com alguém.
E verá que alguém é feliz com seu ninguém.

Ai saberá quem - de fato - é ninguém.
Justo alguém – ingrato como ninguém...
Que desprezou alguém até mais não poder...
E agora – estupefato! - vê ninguém sorridente,
Com alguém que o faz feliz completamente.

(Marcos Suzin, 22-09-2013, 10h55min)
(Se quiser compartilhar, fique à vontade, mas cite o autor, por favor, ninguém quer ser ninguém, eheheh)

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Pôr vida nas palavras...

Eu sempre quis pôr vida nas palavras;
Nunca tolerei expressões insípidas
E despidas de um singular significado.
Nunca quis ser uma carroça vazia,
Cheia de barulho e sem nenhuma substância.
- É preciso tocar o coração das pessoas!
 
Mas eu nunca soube explicar como se faz isso.
Acho que o modo de pôr vida nas palavras,
É fazê-las nascer do coração.
Mas dele também brota a ira,
A inconstância e todas as formas de dissipação.
 
Vou tentar fazê-las brotar da mente;
Mas percebo que é justamente de lá
Que procede todo o turbilhão de emoções – boas e más;
Que – usualmente – se atribui como depositário o coração.
E haja coração!

Se penso em pôr vida nas palavras fazendo-as brotar do conhecimento,
Aí é que tudo se perde irremediavelmente,
Porque as palavras de conhecimento têm tudo, menos vida.
E o que eu quero?
Pôr vida nas palavras.

Incrivelmente – acho que descobri!
Eu ponho vida nas palavras quando as sedimento com o silêncio,
Em continuada meditação na mais recôndita profundidade da alma.
Aí todos perguntam:
- Não nos responde nada?! – Não vai falar?!
E, enquanto cresce a expectativa, germina um doce e contundente poema,
Com palavras cheias de vida, que não sei como viver.

(Marcos Suzin, 24-06-2013)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Até o Passado Passar...


Hoje eu vi uma lágrima de saudade,
que caía dos meus olhos.
Era recheada de lembranças,
Boas e más.
De um passado sombrio que vem à tona,
E que só não se tornou presente,
Pelo zelo extremoso da Mão Providencial.

Mas essa lágrima - como eu disse -
Era transbordante de uma vida que eu não vivi,
De um sonho de um sono leve, cheio de sobressaltos;
Em que tudo que antes me fascinava,
hoje causa inquietação.

Mas eu vi, isso eu vi.
Uma lágrima cheia de saudades,
Repleta cores e flores,
Exalando um perfume que não me é estranho,
Que traz ínsito um repertório de lembranças
Que a prudência aconselha,
Com veemência...
Que se deixe no passado. 
Até o passado passar....

(Marcos Suzin, 17-04-2013, 23 horas)

terça-feira, 12 de março de 2013

O que eu sou, afinal?


Se sou bom, o mundo não é [lugar] para mim.
Mas, se estou no mundo, o que sou?
Se sou mau, eu sou do mundo e o mundo tem senhorio sobre mim.
Entretanto, o mundo me odeia,
Como, de fato, odeia a todos os nossos análogos,
Porque odiou o próprio Criador – Nosso Senhor - primeiro.

Mas o que sou, afinal?
Não faço o bem que quero.
Tantas vezes faço o mal que não quero.
Por um e por outro sou julgado.
Num processo injusto, sem qualquer direito a apelação.

Quem aceitaria o meu fardo?
Há quem inveje as aparências,
Mas quase não existem pessoas capazes de assumir a cruz alheia.
Porém, para julgar os outros, para pôr rótulos,
Para sentenciar sem qualquer conhecimento ou compreensão,
Ah! Estes existem em profusão.

Tantos são os julgamentos que nem mesmo eu confio mais em mim.
Não sei mais se há verdade ou mentira,
Se sou bom ou mau.
A única certeza que tenho é da própria miséria,
De quem de nada pode se orgulhar,
Pois bem sabe que – mesmo em vida – já tem a podridão dentro de si.

E eu me volto – como de outras vezes - às profundezas da alma.
E num lúgubre gemido pergunto.
Quando isso tudo terá fim?
Em resposta, eu ouço:
“_ Quando eu pôr teus inimigos como o estrado de teus pés!”

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Pelo Direito de Ter um Amigo...

Eu queria um amigo assim, um amigão;
Alguém com quem eu pudesse contar todos os dias;
Que eu não precisasse filtrar as palavras;
Que não me obrigasse a fazer uso da prudência;
E que não exigisse de mim o bom uso da sabedoria,
Para saber se as coisas que me diz são ou não verdade.

Eu queria um amigo que não fosse volúvel, nem solúvel;
Que não fosse degradante, nem desagradável;
E que tivesse coragem de me dizer umas verdades,
Ainda que doídas.

Eu queria um amigo que não fosse um amigo, mas um irmão.
Não me importo se homem ou mulher,
Apenas queria que fosse meu amigo,
Alguém que fosse do mesmo tom, uníssono,
Um perfeito diapasão, que me ajudasse a encontrar o prumo.

Na verdade, nem sei mais o que procuro;
Se um amigo ou um anjo,
Se um anjo ou um santo,
Se um santo ou o próprio Deus.
Só sei que eu queria um amigo que não medisse o sangue,
Não contasse as lágrimas, e não me inquietasse.
Um amigo que soubesse ler os pensamentos e compreender os sentimentos,
Sem, contudo, me julgar por uns ou por outros.

E – mais! – um amigo que me ensinasse a compreender esse completo despojo,
Esse vazio de presença e consolação humanas.
Um amigo que fosse meu arroubo, meu baluarte,
Meu alicerce inabalável,
E ainda assim em nada se ensoberbecesse e de nada se orgulhasse.

E, quando mais procurava e menos entendia,
Descobri que este amigo já existia;
E era mais do que tudo que eu pensava.
Mas com um jeito estranho de mostrar seu amor,
E de entregar seu Coração, oculto num pedacinho de Pão.
(Marcos Suzin, 05-02-2012, 16h30min)